sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Geração entalada


Todos sabemos que a esperança média de vida actual é longa. Que a natalidade diminuiu. O que quer isto dizer? Que uma elevada percentagem da população é idosa e que a percentagem da população activa (produtiva) diminuiu, ao contrário do que se verificava há algumas décadas atrás. Significa que a sociedade deveria ter acompanhado esta tendência, deveria ter mais infraestruturas de apoio às pessoas idosas: hospitais de rectaguarda, centros de saúde com pessoal suficiente e motivado para prestar assistência nos cuidados médicos/enfermagem e fisioterapia ao domicilio. Ter locais adequados, com dignidade e meios, ao alcance de todos. Afinal, tanto no nascimento como na morte somos todos iguais ou, pelo menos, deveria ser assim. Descontamos uma vida inteira para ter uma reforma de miséria e, se não tivermos umas economias, nem dinheiro para a medicação temos!! Caramba, ainda vivemos na era medieval de que para conseguir uma consulta com o médico de familia (quando o há) tem que se estar às cinco da manhã no posto médico!! Vergonhoso!! No entanto, consegue-se sempre a bendita consulta, muitas vezes com o mesmo médico, no consultório particular do mesmo! Enfim, fala-se muito, mas reclama-se pouco por escrito! Não procuro uma sociedade ideal, apenas funcional. Com a questão dos idosos, a familia tem de aprender, mudar a sua rotina, ter suporte financeiro e psicológico para que lhes seja prestada assistência digna. É o que chamo de geração entalada. São pessoas na casa dos 50/60 anos que ainda trabalham e que, se não querem colocar os seus pais em lares (por levarem o "couro e o cabelo" e por a maioria prestarem cuidados que deixam muito a desejar) têm que pagar a particulares para fazerem coisas básicas como a higiene e alimentação. E não pensem que é fácil, não é trabalho para todos, atura-se muita coisa, vê-se muita coisa, é quase como olhar para uma bola de cristal e ver o futuro ou olhar para o espelho 30 anos à frente. A medicina evoluiu, prolonga a vida, mas a que preço? Não falo em dinheiro, falo em qualidade de vida... Num hospital confronta-se com muita miséria humana, mas acabando o turno, fica para trás. No dia-a-dia familiar não há turnos, não há substitutos e há ainda o laço afectivo, em que tudo é elevado ao expoente, todas as dores, todo o sofrimento e angústia. Quando se pensa em idosos, pensa-se em velhinhos queridos, amorosos, a beber cházinho e torradas como num filme da Disney. Nem todos são assim, se em novos eram teimosos, casmurros, malcriados ou prepotentes, em velhos também o vão ser. Continuam com as suas manias, tudo tem que ser ao seu jeito, não importa que os parentes próximos trabalhem, se desdobrem para que nada lhes falte, para que possam continuar nas suas próprias casas, que muitas vezes passem lá a noite, dormindo mal e no dia seguinte se levantem cedo para ir trabalhar. Louvo a boa vontade, mas é até arranjarem um esgotamento/depressão.. Todo o ser humano tem um limite e ao contrário do que dizem: "Nascemos para sofrer" tambem nascemos para VIVER e não somente SOBREVIVER. É que há uma diferença entre as duas. Soluções? Criação de VERDADEIRAS infraestruturas e não de depósitos de velhinhos. Também aqui há uma diferença!! Ensino/Apoio por parte das equipas de saúde com a familia e esclarecimento de dúvidas. Articulação VERDADEIRA entre os centros de saúde e os domicilios onde se encontram os idosos. Expansão, especialização e treino de profissionais em geriatria. Ainda há muito que fazer...

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